Jurujuba
Ensaio Pré-selecionado de Ian Cheibub
Fundado em 1953, na capital do estado do Rio de Janeiro, o hospital de Jurujuba, em Niterói, foi criado para ser referência no tratamento a doenças mentais da época, oferecendo inclusive lobotomia. Entretanto, rapidamente foi usado como depósito de loucos e marginalizados levados pela polícia e outros órgãos estatais. Localizado em um lugar de difícil acesso na cidade, cumprindo com os ideais sanitaristas da época, o manicômio se constituiu enquanto o lugar da exclusão, do estereótipo e do horror.
As paredes do hospital abrigaram os tuberculosos, maláricos e outros marginalizados que vinham de diversas partes do estado do Rio. Contando com mais de 700 pacientes, sem leitos para todos, morriam cerca de 18 pacientes por mês. No final dos anos 80, com a redemocratização, a nova constituição, e o início da reforma psiquiátrica, a direção do hospital mudou e ele foi municipalizado. Durante um longo período que envolveu muito cuidado coletivo, esforço dos profissionais e afeto, o HPJ se tornou referência no tratamento da saúde mental no Brasil.
Esse trabalho é uma documentação de um momento histórico na reforma psiquiátrica no Brasil em que os paradigmas que são relacionados à denúncia e à exposição ao horror da manicomialização, ao mundo já estão parcialmente superados. Os registros, que foram e são, de extrema relevância, como as fotos do manicômio de Barbacena, Colônia de Rio Bonito, de Leros, na Grécia e outros tantos exemplos, já cumpriram a sua função histórica. Minha proposta é mergulhar o leitor nesse mundo que é paralelo à realidade normatizada. É fazer o caminho inverso da exclusão social, mas do jeito mais íntimo possível, que permita um entendimento individual do que se entende pela loucura. É buscar um lugar onde o louco caiba. É desconstruir as respostas e dar lugar às perguntas.
O desafio da representação, na verdade, se complexifica. Na medida em que o hospital não assume mais uma posição de vilão e que ele é reivindicado pelos próprios pacientes enquanto um lugar de tratamento e para outros, inclusive de moradia, o binarismo simplório do bom ou ruim, paraíso ou inferno não existe mais. O manicômio enquanto instituição pode até ter algumas características estéticas e arquitetônicas. Porém, o que caracteriza de fato um manicômio são as pessoas que ali residem. Os sujeitos são manicomiais. Por isso, não é destruindo um prédio que se acaba com a loucura. A dor ainda existe e as marcas da institucionalização estão muito presentes.
Com a nova data do Paraty em Foco — DE 27 a 31 de OUTUBRO, as inscrições da Convocatória PEF 2021 ficarão abertas até 19 DE SETEMBRO. Agradecemos a participação de todos pela confiança no trabalho do Paraty em Foco e sua Equipe. O resultado final será divulgado no dia 03 de outubro. Participe, não deixe para a última hora. Você poderá ser um dos protagonistas desta edição. Confira o regulamento: https://www.pefparatyemfoco.com.br/regulamento-2021