Especular

Convocatória em Foco 2021
5 min readJun 25, 2021

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Ensaio Pré-selecionado de Roberto Svolenski

Procurando pelos dicionários, encontramos a definição de linguagem como sendo qualquer meio sistemático de comunicar ideias ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos ou gestuais. Na fotografia isso não é diferente, pois cada fotógrafo procura desenvolver uma linguagem sendo mediado por um aparelho. Segundo o fotógrafo e historiador Boris Kossoy “ o registro visual documenta, por outro lado, a própria atitude do fotógrafo diante da realidade; seu estado de espírito e sua ideologia acabam transparecendo em suas imagens, particularmente naquelas que realiza para si mesmo enquanto forma de expressão pessoal.” Essa expressão pessoal desenvolvida pelo fotógrafo é que faz a diferença ao longo de seus registros, deixando de ser apenas um registro casual para se transformar em observações intensas daquilo que o rodeia. E nesse sentido de observar com mais atenção aquilo que está a nossa volta é que o ensaio fotográfico denominado Especular surgiu. Situações corriqueiras do cotidiano e dessa urbanidade são apresentadas nas fotografias em preto e branco para realçar os contrastes e texturas do movimento quase caótico de uma cidade num período pós-chuva.

A palavra Especular, como verbo, tem como significado o fato de ser uma investigação e o estudo criterioso de todos os detalhes em uma pesquisa. Entretanto, como adjetivo, especular é a imagem refletida no espelho, o contrário do que vemos, ou seja, aquilo que se inverte. Dessa forma, podemos compreender que essa investigação sobre a reflexão especular absorve a ambiguidade da palavra. Arlindo Machado (1949–2020) no livro A ilusão especular (1984) afirma que “o que nós chamamos aqui “ilusão especular” não é senão um conjunto de arquétipos e convenções historicamente formados que permitiram florescer e suportar essa vontade de colecionar simulacros ou espelhos do mundo, para lhes atribuir um poder revelatório.” Esse conjunto de impressões sobre a imagem provoca essa vontade de colecionismo de imagens, a fotografia como um espelho do real conforme Philippe Dubois. Machado complementa ainda que “a fotografia em particular, desde os primórdios de sua prática, tem sido conhecida como o “espelho do mundo”, só que um espelho dotado de memória.”

Ao andar pelas ruas do centro da cidade de Florianópolis é possível observar as irregularidades que a calçada possui devido ao uso constante de pessoas que vão e vem apressadas para seus compromissos e as poças formadas pela chuva que parece “limpar” um pouco essas ruas. E, ao caminhar por elas e sentir-se como um flâneur, Charles Baudelaire (1821–1867) afirma que “para o perfeito flâneur, para o observador apaixonado, é um imenso júbilo fixar residência no numeroso, no ondulante, no movimento, no fugidio e no infinito”, observo a cidade e tudo o que está a sua volta, como um passeio físico e mental procurando “ler” a cidade com todos os sentidos.

Baudelaire complementa ao dizer que “estar fora de casa, e contudo sentir-se em casa onde quer que se encontre; ver o mundo, estar no centro do mundo e permanecer oculto ao mundo, eis alguns dos pequenos prazeres desses espíritos independentes, apaixonados, imparciais, que a linguagem não pode definir senão toscamente.” Estar no mundo e oculto a ele faz com que eu ande pelas ruas com um dispositivo móvel e discretamente consiga captar diversas imagens sem chamar a atenção.

E nesse espelho refletido nas poças, como se um universo de possibilidades estivesse sendo habitado numa imagem especular é que o ensaio se desenvolve. A luz, como sabemos, quando projetadas sobre essas poças refletem o que está a sua volta. Mas dependendo do ângulo que vemos essas poças, elas nos limitam o olhar a somente um “pedaço” da “realidade” refletida. O espelho do real. Ao observar esses reflexos e esse mundo imagem, inicio a investigação sobre essa reflexão. Palavra que também possui a ambiguidade por se tratar de um reflexo se olhamos pelo viés das leis da física ou no sentido figurado de pensar em si próprio bem como representações e sentimentos. E a partir de ambos os questionamentos a investigação vai tomando forma. São reflexos captados pelo olhar do fotógrafo instigado a responder de forma involuntária a partir de algum estímulo como ser espetado por uma agulha. São reflexos que, como a luz, refletem sobre uma superfície que devolve de maneira direta ou difusa. São reflexos de um Outro, que não conhecemos, mas que está lá, invertido.

Seja um protagonista da exposição Convocatória PEF 2021 na Quadra da Matriz Centro Histórico ©Meca

Com a nova data do Paraty em Foco -DE 27 a 31 de OUTUBRO -, as inscrições da Convocatória PEF 2021 ficarão abertas até 19 DE SETEMBRO. Agradecemos a participação de todos pela confiança no trabalho do Paraty em Foco e sua Equipe. O resultado final será divulgado no dia 03 de outubro. Participe, não deixe para a última hora. Você poderá ser um dos protagonistas desta edição. Confira o regulamento: https://www.pefparatyemfoco.com.br/regulamento-2021

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